terça-feira, 12 de outubro de 2010

Curso de Formação de Maridos

Objetivo pedagógico:
Permite aos homens desenvolver a parte do corpo da qual ignoram a existência (o cérebro).


São 4 módulos:
 


Módulo 1: Introdução (Obrigatório)

1 - Aprender a viver sem a mamãe. (2.000 horas)

2 - Minha mulher não é minha mãe. (350 horas)

3 - Entender que não se classificar para o Mundial não é a morte. (500 horas)


Módulo 2: Vida a dois

1 - Ser pai e não ter ciúmes do filho. (50 horas)

2 - Deixar de dizer impropérios quando a mulher recebe suas amigas. (500 horas)

3 - Superar a síndrome do 'o controle remoto é meu'. (550 horas)

4 - Não urinar fora do vaso. (1000 horas - exercícios práticos em vídeo)

5 - Entender que os sapatos não vão sozinhos para o armário. (800 horas)

6 - Como chegar ao cesto de roupa suja. (500 horas)

7 - Como sobreviver a um resfriado sem agonizar. (450 horas)


Módulo 3: Tempo livre

1 - Passar uma camisa em menos de duas horas. (exercícios práticos)

2 - Tomar a cerveja sem arrotar, quando se está à mesa. (exercícios práticos)


Módulo 4: Curso de cozinha

1 - Nível 1. (principiantes - os eletrodomésticos) ON/OFF = LIGA/DESLIGA

2 - Nível 2. (avançado) Minha primeira sopa instantânea sem queimar a Panela.

3 - Exercícios práticos Ferver a água antes de por o macarrão.


Cursos Complementares

Por razões de dificuldade, complexidade e entendimento dos temas, os cursos terão no máximo três alunos.

1 - A eletricidade e eu: vantagens econômicas de contar com um técnico competente para fazer reparos.

2 - Cozinhar e limpar a cozinha não provoca impotência nem homossexualidade. (práticas em laboratório)

3 - Porque não é crime presentear com flores, embora já tenha se casado com ela.

4 - O rolo de papel higiênico: Ele nasce ao lado do vaso sanitário? (biólogos e físicos falarão sobre o tema da geração espontânea)

5 - Como baixar a tampa do vaso passo a passo. (teleconferência)

6 - Porque não é necessário agitar os lençóis depois de emitir gases intestinais. (exercícios de reflexão em dupla)

7 - Os homens dirigindo, podem SIM, pedir informação sem se perderem ou correr o risco de parecerem impotentes. (testemunhos)

8 - O detergente: doses, consumo e aplicação. Práticas para evitar acabar com a casa.

9 - A lavadora de roupas: esse grande mistério.

10 - Diferenças fundamentais entre o cesto de roupas sujas e o chão. (exercícios com musicoterapia)

11 - A xícara de café: ela levita, indo da mesa à pia? (exercícios Dirigidos por Mister M)

12 - Analisar detidamente as causas anatômicas, fisiológicas e/ou psicológicas que não permitem secar o banheiro depois do banho.

O curso é gratuito para homens solteiros e para os casados damos bolsas.

domingo, 10 de outubro de 2010

Você é Hands On?

Vi um anúncio de emprego. A vaga era de Gestor de Atendimento Interno, nome que agora se dá à Seção de Serviços Gerais. E a empresa exigia que os interessados possuíssem - sem contar a formação superior - liderança, criatividade, energia, ambição, conhecimentos de informática, fluência em inglês e não bastasse tudo isso, ainda fossem HANDS ON. Para o felizardo que conseguisse convencer o entrevistador de que possuía essa variada gama de habilidades, o salário era um assombro: 800 reais. Ou seja, um pitico.
 
Não que esse fosse algum exemplo fora da realidade. Ao contrário, é quase o paradigma dos anúncios de emprego. A abundância de candidatos permite que as empresas levantem cada vez mais a altura da barra que o postulante terá de saltar para ser admitido.
E muitos, de fato, saltam. E se empolgam. E aí vêm as agruras da super-qualificação, que é uma espécie do lado avesso do efeito pitico...
 
Vamos supor que, após uma duríssima competição com outros candidatos tão bem preparados quanto ela, a Fabiana conseguisse ser admitida como gestora de atendimento interno.. E um de seus primeiros clientes fosse o seu Borges, Gerente da Contabilidade.
 
Seu Borges:
-- Fabiana, eu quero três cópias deste relatório.
Fabiana:
-- In a hurry!
Seu Borges:
-- Saúde.
Fabiana:
-- Não, Seu Borges, isso quer dizer "bem rapidinho". É que eu tenho fluência em inglês. Aliás , desculpe perguntar, mas por que a empresa exige fluência em inglês se aqui só se fala português?
Seu Borges:
-- E eu sei lá? Dá para você tirar logo as cópias?
Fabiana:
-- O senhor não prefere que eu digitalize o relatório? Porque eu tenho profundos conhecimentos de informática.
Seu Borges:
-- Não, não.. Cópias normais mesmo.
Fabiana:
-- Certo. Mas eu não poderia deixar de mencionar minha criatividade. Eu já comecei a desenvolver um projeto pessoal visando eliminar 30% das cópias que tiramos.
Seu Borges:
-- Fabiana, desse jeito não vai dar!
Fabiana:
-- E eu não sei? Preciso urgentemente de uma auxiliar.
Seu Borges:
-- Como assim?
Fabiana:
-- É que eu sou líder, e não tenho ninguém para liderar. E considero isso um desperdício do meu potencial energético.
Seu Borges:
-- Olha, neste momento, eu só preciso das três cópias.
Fabiana:
-- Com certeza. Mas antes vamos discutir meu futuro...
Seu Borges:
-- Futuro? Que futuro?
Fabiana:
-- É que eu sou ambiciosa. Já faz dois dias que eu estou aqui e ainda não aconteceu nada.
Seu Borges:
-- Fabiana, eu estou aqui há 18 anos e também não me aconteceu nada!
Fabiana:
-- Sei. Mas o senhor é hands on?
Seu Borges:
-- Hã?
Fabiana:
-- Hands on....Mão na massa.
Seu Borges:
-- Claro que sou!
Fabiana:
-- Então o senhor mesmo tira as cópias. E agora com licença que eu vou sair por aí explorando minhas potencialidades. Foi o que me prometeram quando eu fui contratada.
 
Então, o mercado de trabalho está ficando dividido em duas facções:
1 - Uma, cada vez maior, é a dos que não conseguem boas vagas porque não têm as qualificações requeridas.
2 - E o outro grupo, pequeno, mas crescente, é o dos que são admitidos porque possuem todas as competências exigidas nos anúncios, mas não poderão usar nem metade delas, porque, no fundo, a função não precisava delas.
Alguém ponderará - com justa razão - que a empresa está de olho no longo prazo: sendo portador de tantos talentos, o funcionário poderá ir sendo preparado para assumir responsabilidades cada vez maiores.
Em uma empresa em que trabalhei, nós caímos nessa armadilha. Admitimos um montão de gente superqualificada. E as conversas ficaram de tão alto nível que um visitante desavisado confundiria nossa salinha do café com a Fundação Alfred Nobel.
Pessoas superqualificadas não resolvem simples problemas!
 
Um dia um grupo de marketing e finanças foi visitar uma de nossas fábricas e no meio da estrada, a van da empresa pifou. Como isso foi antes do advento do milagre do celular, o jeito era confiar no especialista, o Cleto, motorista da van. E aí todos descobriram que o Cleto falava inglês, tinha informática e energia e criatividade e estava fazendo pós-graduação.. ... só que não sabia nem abrir o capô. Duas horas depois, quando o pessoal ainda estava tentando destrinchar o manual do proprietário, passou um sujeito de bicicleta. Para horror de todos, ele falava "nóis vai" e coisas do gênero. Mas, em 2 minutos, para espanto geral, botou a van para funcionar. Deram-lhe uns trocados, e ele foi embora feliz da vida.
Aquele ciclista anônimo era o protótipo do funcionário para quem as Empresas modernas torcem o nariz: O QUE É CAPAZ DE RESOLVER, MAS NÃO DE IMPRESSIONAR.
 
Por Max Gehringer.
Colunista da Revista EXAME.